segunda-feira, 12 de julho de 2010

Entrevista com o Museólogo Diogo Maia da Fundação Eva Klabin

Arte e Institucionalização


Entrevista com o Museólogo Diogo Maia da Fundação Eva Klabin



Alunas: Bruna Bolzan; Edilaine Lima; Elaine Frango; Juliana Zarur e Kazzy Emanoelle
Professora: Martha Telles
Entrevista realizada em: 22/06/2010; Local: Auditório da Fundação Eva Klabin





Diogo é museólogo da fundação Eva Klabin, graduado no curso de museologia da Universidade do Rio de Janeiro.
Trabalha realizando visitas guiadas, catalogação de obras e conservação do acervo da fundação.

- Qual foi a sua trajetória profissional até chegar à fundação Eva Klabin?
Eu fiz faculdade de museologia na Uni-Rio, iniciada em 1999; estagiei na Casa de Rui Barbosa por aproximadamente dois anos e em 2002, eu vim para a fundação Eva Klabin, também como estagiário. Quando eu me formei, em 2004, assumi o cargo de museólogo contratado.
- Quais são as áreas de atuação da museologia? Como se dá a formação desse profissional?
O curso de museologia já existe há muitos anos no Rio de Janeiro, mas nos outros estados é comum encontrar pessoas trabalhando na área, mas que não são exatamente museólogos – alguns fizeram especialização na área. Mas hoje em dia estão surgindo cursos em outras regiões e o campo de trabalho é bem vasto: eu estudei muito história da arte para orientar as visitas guiadas, trabalho também com conservação das obras e o acervo daqui é muito extenso, nós temos mobiliário, prataria, quadros, esculturas pinturas... Aqui nós não fazemos trabalho de restauração, fazemos o trabalho de conservação e higienização das obras; a catalogação do acervo também é realizada por nós e é preciso estudar bastante para conseguir diferenciar técnicas de pintura, tipos de mobiliário...
- Por que vocês não fazem restauração aqui?
Na faculdade de museologia nós não temos essa cadeira, nós só temos a conservação, ou seja, estudamos a prevenção contra a deteriorização da obra.
Aqui nós não temos restauradores especialistas, como,por exemplo, um restaurador de pintura inglesa, um especialista em restauração de pintura francesa, nós evitamos que a obra chegue ao ponto que precise ser restaurada constantemente. Quando a gente precisa que uma obra seja restaurada, contratamos um profissional especialista para realizar o trabalho.
- Há uma política de aquisição de novas obras de arte por parte da fundação?
O acervo é permanente e foi montado pela Eva Klabin. Trata-se de uma coleção muito particular, pensada pela Eva Klabin e não caberia interferir nela comprando novas obras. A organização das obras de arte segue o gosto dela e mexer nisso – comprando novas obras – é mexer no sentido do museu.
A gente tem uma política de empréstimo de obras de arte para exposições. Há pouco tempo teve uma exposição importante do Taunay e nós emprestamos dois quadros desse artista, também emprestamos um quadro do Lazar Segal recentemente, mas a gente não recebe obras de outros museus.
O que nós temos aqui é o projeto Respiração: artistas contemporâneos são convidados a fazer intervenções no acervo da Eva Klabin. São obras específicas para a fundação e essa é a maneira de mexer na estrutura do acervo da casa, por isso o título do projeto é Respiração, é uma respiração dentro de um acervo tradicional e permanente.
O público que vem buscando ver os quadros bonitos, a prataria e esculturas antigas, acaba entrando em contato com a arte contemporânea e aqueles que vem atraídos pela novidade da exposição contemporânea podem conhecer o acervo fixo.
- Como se dá o diálogo entre as exposições contemporâneas e a exposição permanente? São realizadas em salas diferenciadas?
Não, o curador aqui da fundação, o Márcio Doctors, convida alguns artistas – normalmente é um artista por edição, mas na próxima intervenção que será inaugurada nesse sábado, serão duas artistas – e esses artistas têm liberdade de escolher a sala em que querem trabalhar e qual o tipo de intervenção que querem fazer. Não há uma sala reservada para essas exposições, a intenção é criar um diálogo entre artes do passado e a arte contemporânea.
- Você poderia falar um pouco a respeito dessa intervenção que será inaugurada no Sábado?
Essa é a décima primeira edição do Projeto Respiração e duas artistas foram convidadas: A Daniela Thomas e a Lílian Zaremba. A Daniela Thomas vai fazer um projeto chamado Substituições (ela já retirou algumas obras do circuito da exposição – que fazem parte do acervo permanente – e no local onde estariam, foram colocados aparelhos de reprodução sonora. A artista convidou pessoas para que descrevessem as obras de arte, então, na verdade, o visitante da exposição não vai ver a obra de arte, mas vai escutar a descrição daquela obra e acabará imaginando como a obra seria. A Lílian Zaremba também vai apresentar um trabalho sonoro: ela fez umas gravações e aproveitou uma entrevista da Eva Klabin, na verdade é um depoimento da Eva Klabin no último ano de vida dela; A artista pegou trechos desse depoimento e fez uma edição. Eu ainda não vi o resultado e não sei como ficou.
- Como a fundação Eva Klabin se insere no Sistema de Arte? Quais são as fontes que fomentam essa Instituição? Vocês recebem algum incentivo financeiro do Governo?
A Eva Klabin deixou tudo bem esquematizado. Ela criou a fundação e quando ela faleceu, todos os bens dela foram revertidos para a fundação e são esses recursos que mantém a fundação. Eventualmente, existem alguns eventos que são patrocinados (muitas vezes até pela indústria Klabin). Nós temos concertos que recebem patrocínio; às vezes, somos contemplados por um ou outro edital e conseguimos verbas para determinadas exposições, mas não é sempre não.
- A Eva Klabin não teve filhos, mas existe alguém da família que esteja ligado à fundação, que se interesse pela manutenção da fundação?
É, ela não teve filhos e a irmã dela também não teve filhos, mas ela tem primos... O presidente da fundação – Doutor Israel Klabin – é primo dela... Então a família continua presente e, de certa forma, todos apoiaram a idéia da fundação desde o início.
- Paul Valéry critica, no texto O problema dos museus, a política de exposição do acervo museológico: “algo de insensato resulta dessa vizinhança de visões mortas. Elas se enciúmam umas das outras e disputam entre si o olhar que lhes aporta a existência.” Qual a política de exposição do acervo da fundação Eva Klabin?
A intenção da Eva Klabin foi criar um acervo que reunisse exemplares da história da arte. Nós temos uma mini-história da arte, uma coleção enciclopédica, que tenta recriar a história da humanidade. Ela tentou reunir obras dos principais períodos da história e das principais civilizações. Nós temos Egito, Grécia, Idade Média, Renascimento, Renascimento Flamenco do séc. XVI, obras de arte da Holanda do séc. XVII, Barroco italiano, Inglaterra do séc. XVIII e a coleção pára no séc. XIX. E realmente nesse período a arte era externada por meio de objetos, quadros e se você for comparar com a Arte contemporânea, a arte contemporânea – não necessariamente – mas há uma tendência a privilegiar o conceito e não o objeto. Nessa intervenção que iremos inaugurar sábado, por exemplo, as obras são sonoras, não há um objeto em si.
A intenção dela era essa, ela decorou a casa com obra de arte, mas as obras são dispostas de certa maneira isoladas, não há acúmulos de quadros de cima a baixo em uma parede Não é tão entulhado assim. Cada sala é pensada, seguindo, claro, a história da arte. A casa dela está bem decorada.
Com essas intervenções de arte contemporânea a gente traz a coleção dela, digamos, para o século XXI. Uma coleção que parou no séc. XIX é, de certa forma, trazida para o séc. XXI.
- A organização que a Eva Klabin criou dentro da casa seguiu um ideal bastante particular, ela foi selecionando locais para as obras seguindo um gosto particular. Essa organização foi mantida ou foi modificada com o objetivo de seguir a história da arte ou uma cronologia?
A Eva Klabin nomeou todas as salas e essa nomeação é conservada. Então já existia a sala Renascença, por exemplo, onde predominam quadros da Renascença Italiana; já existia a sala Inglesa, onde predominam obras da Inglaterra. Na sala de jantar temos todos os quadros holandeses do séc. XVII. Então. Ela já seguia essa linha de reunir em uma mesma sala, obras de um mesmo período, ou mesmo estilo.
Depois que A Eva faleceu, a casa ficou fechada por um tempo, até que foi nomeado o primeiro curador da casa, que deu uma reorganizada na coleção – mantendo, basicamente, a mesma disposição escolhida pela Eva Klabin, só que talvez ele tenha dado um sentido maior a coleção dela, realocando certas obras e tornando mais clara essa idéia dela de recriar períodos da história da arte. Por exemplo, na sala Renascença, já existiam as vitrines que recriam os continentes, mas na vitrine pré-colombiana poderia haver, vamos supor, um vaso chinês, que foi realocado na sala chinesa. A organização dela era um pouco mais misturada, o que pode ser percebido por fotos antigas da casa, mas a maior parte da organização do acervo foi mantida tal como foi idealizada pela colecionadora.
Na sala chinesa, existem obras de todo o sudeste asiático, embora ela tenha nomeado de sala chinesa; A Renascença tem vitrine com obras Egípcias, havia uma mistura, mas ao mesmo tempo um predomínio de objetos filiados ao período que nomeia a sala. Lá na sala inglesa nós temos estatuetas da coleção de tanagras, que são umas estatuetas gregas, de antes de Cristo.
- Essa coleção dela foi pensada desde o início visando elaborar um acervo a ser mostrado ou visando uma venda futura?
A gente sabe que ela nunca vendeu uma obra de arte da coleção. Tudo o que ela comprou, ela manteve aqui na casa. Ela nunca teve esse pensamento voltado para o mercado: “posso vender isso agora que está valorizado e comprar outra coisa”.
Na década de 60, ela fez uma grande reforma aqui na casa, ela ampliou salas, criou o auditório e nessa reforma ela pensou em algumas vitrines para exibir e organizar melhor a coleção (são as vitrines que ainda temos hoje em dia). Desde a década de 70, ela já tinha uma pessoa catalogando o acervo, já tinha uma museóloga que trabalhou para ela. Então, ela já tinha essa preocupação de manter esse acervo e já tinha a intenção de abrir a casa ao público, como museu, em algum momento.
No livro das taragras, de 1983, já tem lá “Fundação Eva Klabin, em formação”. Ela já estava criando a fundação, embora ela só tenha sido oficializada em 1990. A Eva Klabin morreu em 1991.
- Vocês desenvolvem alguma política educacional na fundação?
A gente tenta receber escolas aqui, mas não há muita procura; recebemos mais grupos de faculdades, como é o caso dessa turma que chegou ainda há pouco. Nossa ação educativa consiste na visita guiada, aliás, todas as visitas aqui são guiadas.
Nós convidamos escolas, mas poucas delas aparecem, não sei se pelo fato da localização da fundação não ser das mais fáceis (se bem que tem uma escola aqui na esquina que não traz os alunos).
- Diogo, o site da fundação informa que vocês realizaram um projeto que aliava teatro à visita guiada. Esse projeto ainda existe? No que consistia exatamente?
Esse foi um projeto de uma produtora que usou o espaço da fundação – foi um projeto patrocinado – e teve uma temporada de aproximadamente quatro meses. Era uma peça de Teatro que falava de um assassinato – era uma peça de mistério – e utilizava o primeiro andar da casa como cenário. Começava no jardim e depois passava pelo hall... O público circulava pelas salas da casa – o que não é propriamente uma visita guiada.
A idéia de representar uma peça de mistério tem tudo a ver com a Eva Klabin – que era fã de mistério, tinha os livros da Ágata Christie – e é interessante ver a peça misturada com esse acervo.
Não é que não haja interesse de realizar projetos como esse, mas este espetáculo já acabou, tinha duração prevista de alguns meses, não se tratava de um projeto fixo da casa, como é o caso da visita guiada.
Além do acervo nós oferecemos muitas atividades: concertos, balés, exposições de arte contemporânea, palestras – hoje, por exemplo, teremos uma palestra da Glória Ferreira – apresentações de pesquisas de pós-graduação.

Um comentário:

Tainá Batista disse...

Oi querida, eu sou aluna do 2° ano do ensino médio, e entre algumas profissões que estou em dúvida, é a de Museologia. Moro no RJ e queria saber mas informações sobre o curso. Será que você teria algumas dicas para me dar ? Vou deixar o meu emaill se caso, queira entrar em contato. taina.batista@hotmail.com
Grata.